quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O homem que confundiu a (ex) mulher com o pai

O homem se libertara do controle, da ex e do pai. Vivia liberdade singela, intensa há pouco tempo - viagens de harley davidson a telemedicina na amazônia, passando por montar o seu próprio negócio e enfim, ser senhor de si. Ocorre que o pai tivera um AVC, faleceu. Desagradável, mas todos estamos á mercê dessas situações. Prognóstico pior foi o do filho, AVC da alma com lesão fronto-temporal. Seu Véu de Maya transformou-se em cortina de aço. O homem se recolheu ao seu mundo real de ilusão. Corroborou para tal viver um fato inusitado: a até então, transparente ex-mulher aos olhos de quem vivia sob um reinado gnóstico, nesse mundo de não aceitação da perda, de obstinação por estratégias que não funcionam e de agnosia seletiva, se tornou o pai. Isso mesmo, o falecido! O homem alimentava sua cortina de aço com tudo aquilo dela que outrora o pai possuira - o mesmo emprego, empatia pelo tradicional ciclo familiar nascer/crescer/trabalhar/casar/ter filhos/envelhecer/morrer, trivialidades em geral e o mais importante de tudo: fazê-lo seu marionete. A mulher-pai aprova/reprova suas ações e resolve seus problemas. Perfeita para um homem com lesão do frontal! Melhor ainda quando se tem associada a do temporal - a agnosia com a falta de discernimento não o permitem perceber que a mulher não é o pai, quem dirá o que ele faz da própria existência. Pobre homem, preso sob cortina de aço, tivera medo de suas asas serem frouxas para aplainar nesse céu ilimitado. A vida nos prega peças. É preciso aprender a dar rasantes e, com serenidade, voltar a aplainar.