domingo, 21 de março de 2010

Laços em vidas (ou vidas em laços) - Parte II: o rapaz

Ele, completude. Realizar, finalizar - palavras de ordem. O rapaz sempre se perguntou: onde você está quando você está? Mal-estar existencial, sentimento de deslocamento. Monólogo constante que traz dentro de si. Evolui, entende, esclarece, encanta, aprofunda, cresce, desenvolve, transforma. Todavia, falta uma peça. Falta a peça. O corpo dói, a alma grita, o tempo passa. As coisas incompletas perduram, esperam. Adia, é um buscador fascinado pelo buscar. Nada termina e ele vai fazendo novos começos. Se atulha de obras inacabadas, cicla filosofando sobre questões existenciais. Afoga-se em pensamentos. Carrega um fardo constante, progressivo: repertório sem fim para o seu monólogo. Contorna, galga, declara seu amor á angústia. O tudo é vazio. O vazio é tudo. Sensação de que o mundo está em desconcerto. Sabe que o correr da vida embrulha tudo, que ela é cheia de altos e baixos. Como Rosa, sabe também que o que ela quer da gente é justamente o que lhe falta. Precisa aprender que se tiver uma experiência que é completa, a mente nunca voltará a ela. Assim, o monólogo vai ceder, vai quebrar. Haverá um intervalo, uma lacuna. Em quantas línguas ele se cala? Silêncio. O quebra-cabeça se completa. Epifania!

Laços em vidas (ou vidas em laços) - Parte I: a moça

Ela, relâmpago. Libertação, construção - palavras de ordem. A moça sabe que não é como sonhar. Ainda assim, o esforço pra lembrar é a vontade de esquecer. Não lembra, não entende. A ignorância pode ser uma dádiva. Transtorna-se com vislumbres da verdade. Se espelha em Clarice, julga-se mais completa quando não entende. Sabe que a lucidez é perigosa. Constrói seu mundo tal qual o país de Alice. Lírica, finge. Não a dor que deveras sente. Dissimula. Engana-se e aos outros. No entanto, a torre está aí, atacada por raios provocativos de inquietação. Da larga lagarta, do corpo de estrela, ela sabe. Ela entende. Não vai mais rasteira, levanta as suas asas! Sabe que o ar escapa ao tentar fechar os dedos, sabe que a mão aberta nunca está vazia. Sabe que só consegue aquilo que aceita abrir mão e deixar para trás. Sabe de muitos paradoxos universais. Ela pratica desapego e compaixão. Entretanto, ás vezes, se lembra de Clarice...